Você consegue se levar para curtir um cineminha ou para um happy hour? Sente-se bem passeando pelo museu sozinho?
Você pode estar pensando: ‘eu fico sozinho muitas vezes’. E sim, muitas
pessoas ficam sozinhas muitas vezes, então, o que há de tão especial em ficar
sozinho?
Ficar sozinho é uma coisa comum no dia-a-dia, mas gostar de estar
sozinho, apreciar a sua própria companhia e aproveitar este tempo em solitude é
bem diferente. Afinal, muitas pessoas enquanto estão sozinhas ficam ansiando a
chegada de outro ou ligam TV, rádio, liquidificador e qualquer outro
eletrodoméstico que faça barulho para que lhe dê a impressão de
companhia. Apreciar a sua companhia é mais do que apenas estar sozinho. É estar
acompanhado, na verdade. Acompanhado por você mesmo. Por seus pensamentos,
sentimentos, culpas, autocríticas, medos, alegrias e tudo mais que se passa na
sua cabeça. É estar acompanhado por tudo isso e estar de boa com tudo isso.
Especial, não acha?
Não há barulho externo que abafe os barulhos que se passam dentro de você.
Mais cedo ou mais tarde eles precisarão ser ouvidos. Não há companhia que lhe
supra com aquilo que você desconhece de si mesmo. Então, apreciar a sua companhia
tem algo de especial e até de necessário. Se você ainda não conhece este prazer
faça um esforço, tente. Mas sem enfiar o nariz para dentro do celular, hein?!
Sem distrações. Se divirta consigo mesmo.
“QUANDO VOCÊ APRENDE A SE DIVERTIR SOZINHO, LUGAR COM MUITA GENTE INCOMODA
Às vezes, locais com muita gente incomodam
justamente quando você só quer permanecer tranquilo na melhor companhia com a
qual saiu de casa: você mesmo.
É muito estranho para a maioria das pessoas a ideia de sair sozinho.
Comer sozinho, beber sozinho, andar sozinho sem rumo, tudo isso é visto como
sinal claro de solidão ou de excentricidade. Mais solidão que excentricidade,
já que a maioria esmagadora de nós não é “cool”, nem tem “estilo”, embora nesses nossos tempos de obsessiva felicidade postada e da
necessidade de celebrização de tudo, ninguém admita sem muita resistência a
própria mediocridade cotidiana.
Contudo, existem
pessoas que verdadeiramente gostam de passar algum tempo sozinhas e que
sinceramente se divertem consigo mesmas. Mais que isso: em alguns momentos
essas pessoas não querem a companhia de mais ninguém.
Fim de semana. O
indivíduo resolve sair para comer. Sozinho.
Domingo à tarde. O
sujeito resolve ir a um bar. Senta sozinho, abre um livro e pede uma cerveja.
Sábado à noite. A
pessoa resolve não sair. Fica em casa para ver um filme e para cozinhar...para
um.
Essas situações
sempre geram incredulidade e surpresa, e provavelmente geram olhares de espanto
e pena de garçons, ou risos diante de uma pessoa sentada num bar com um livro,
ou ainda críticas a alguém que decide ficar em casa sozinho num sábado à noite.
Facilmente esse alguém é chamado de solitário e esquisito.
Pode ser que nessas
ocasiões não haja má intenção de quem olha torto, ou ri ou critica; essas
pessoas simplesmente não entenderam nada. Ruim para elas.
Então mesmo possuindo
ótimos amigos e gostando muito de sair com eles, a questão é que tem dias em
que uma pessoa quer apenas a sua própria companhia; quer desfrutar apenas as
suas próprias ideias, suas próprias bobeiras, bem como aproveitar um tempo para
fazer uma autoanálise sobre os tropeços que tem dado na vida e sobre o que é
preciso para erguer novamente sua espinha própria dorsal.
Uma das coisas
interessantes que deságuam nisso é que todos os dias, vídeos, imagens e textos
sobre autoestima são publicados à exaustão nas redes sociais. A quantidade é
tanta, que chega a um ponto em que tudo começa a ficar com uma cara de Augusto Argh Cury (inclusive textos do Obvious!), o
que te faz preferir um tratamento de canal a ver mais coisas desse tipo.
Mas quando você
percebe que passar um tempo somente consigo mesmo é algo que lhe agrada ao
ponto de você se arrumar e sair de casa só pra isso, você percebe com muito
espanto que algo daquela quantidade de coisas que leu/viu/pensou/ouviu, de
alguma forma entrou na sua mente complicada e provocou alguma mudança que você
sequer percebeu. É nesse dia que você descobre que gosta muito de si próprio,
mesmo ainda tendo um caminhão de conflitos e encanações estacionado em sua
garagem.
Então, seja qual for
o motivo da saída solo, por si só ela é um indicador incrivelmente positivo, e
mesmo que se saia sozinho para fazer uma autoanálise, isso não é sinal de
tristeza.
Isso significa que
a pessoa que tem disposição para sair de casa sozinha, aleatoriamente, está num
estado de espírito muito melhor que quem se recusa a sair sem companhia?
Negativo! Não há nada
de especial nisso; é apenas diferente.
Consequência disso
tudo é o desejo de calma, de sair sozinho para algum local sem aglomerações nem
festança; e se houver algum evento, que seja num local em que ninguém te
conheça.
Daí ao sair, ocorre
que a pessoa chega ao lugar, vê que ele está tranquilo e acha ótimo. Ela se se
acomoda e não dá muita importância à estranheza das pessoas ao seu redor,
diante da sua figura equivocadamente vista como solitária por elas.
Está tudo indo muito
bem, até que de repente o local fica cheio de gente, e isso era exatamente o
que mais se temia.
É claro que quase
todo mundo gosta de gente, gosta de ver e de conhecer pessoas novas, MAS NÃO
NESSE DIA! Nesse ponto, você que está lendo já perguntou “mas se uma pessoa não
quer ver muita gente, por que diabos sai de casa?”. Sim, a pergunta procede, mas
é assim mesmo: a pessoa quer sair de casa mas não quer ver muita gente.
Conflitante? Sim; não discordo!
Acontece que
justamente nesse dia o que não se quer é ver um monte de gente fazendo selfies,
reclamando do sinal da Tim/NOS/Movicel e praguejando porque não consegue fazer
um check-in no Facebook.
Nesses momentos fica
evidente que local com muita gente é ruim e uma boa saída é ter às mãos um bom
par de fones de ouvido que o isole das outras pessoas, até porque é incômodo
quando os outros compartilham sua privacidade contigo à força.
Mesmo que você tenha
chegado primeiro ao lugar, você tem a impressão de que a turba que invadiu o
local roubou sua privacidade, e começa a sentir que na verdade, você é que
passou a ser o intruso a partir de agora. O seu momento pessoal tornou-se
frágil diante da coletividade festiva, e infelizmente a questão numérica vai te
vencer. Você pede a conta.
Na verdade não se
trata de uma derrota. Talvez “desistência” seja um pouco menos impreciso, pois
nesse caso, simplesmente o local mudou de configuração, e se antes ele tinha as
condições ótimas para uma saída solo, agora ele ficou com cara de programa
familiar ou quase uma balada, e você não saiu em busca disso. Logo,
simplesmente o local deixou de ser interessante pois muita gente incomoda, e
você só queria permanecer tranquilo na melhor companhia com a qual saiu de
casa: você mesmo.
Se criar esse
bem-estar consigo mesmo foi difícil, encontrar um outro lugar para desfrutar
dele é a tarefa mais fácil do dia. Avante!”